O medo continua a dominar o cotidiano dos moradores da cidade de Jisr Al Shughur, no noroeste da Síria. Depois da promessa do governo de “responder com força” ao assassinato de 120 policiais no local, na última segunda-feira, um grande número de residentes resolveu partir em direção à Turquia. Segundo as autoridades turcas, ao todo já há 450 refugiados sírios no país. Um grupo turco-sírio de ajuda aos refugiados contabilizou 89 feridos hospitalizados na Turquia desde o dia 20 de maio.
Em uma coletiva de imprensa em Ancara, o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, disse: "A Síria deveria mudar sua postura com relação aos cidadãos e ser mais tolerante". O governo turco afirmou ainda que não fechará as portas aos refugiados. Alguns deles são conduzidos a hospitais e outros, a acampamentos na fronteira.
Os moradores que decidiram permanecer na cidade construíram barricadas nas estradas, na esperança de impedir a entrada das Forças Armadas. Ainda não é claro o motivo do assassinato dos 120 oficiais na última segunda, mas o governo prometeu retomar Jisr Al Shughur. O regime alega que o crime foi obra de “gangues armadas” que agora controlam a cidade, enquanto alguns ativistas defendem que os soldados foram mortos pelos próprios colegas porque se recusaram a atacar civis.
Testemunhos - Feridos, os manifestantes que já chegaram à Turquia relatam cenas de horror. Eles contam que foram metralhados por helicópteros e franco-atiradores de maneira indiscriminada, até mesmo enquanto enterravam seus mortos.
Selim, de 28 anos, acordou em uma cama do hospital de Antakya, ao sul da Turquia, a cerca de 50 quilômetros da fronteira síria. Ele não sabe como chegou ali. Vinte e quatro horas antes, esse jovem operário se encontrava em Jisr Al Shughur, cenário de violentas operações das forças de segurança, que deixaram 35 mortos segundo o Observatório sírio de Direitos Humanos. "A última coisa que lembro é que um franco-atirador atirou em mim: uma bala entrou pela minha clavícula e saiu pelo meu peito esquerdo. Quando eu tentava avisar aos meus amigos, outra bala atravessou a minha mão. Depois perdi a consciência", relata o jovem.
Mohamed, um pintor de 31 anos, também ficou ferido no domingo em Jisr Al Shughur. "Policiais dispararam contra mim. Uma bala atravessou minha mão, não consigo mexer os dedos", afirma, mostrando o braço enfaixado. "Uma hora depois, estava na fronteira turca. Deixaram-me num posto oficial e uma ambulância turca me levou ao hospital", relata.
Os 120 - Mohamed foi testemunha da violenta repressão que assola a cidade. "No sábado, enterramos nossos mortos. Após os enterros, as forças de segurança começaram a atirar. Eles atiravam do prédio dos correios, disparavam para todos os lados", explica. "Vi muitos cadáveres, mas minha maior preocupação era me esconder". Sobre a morte dos 120 policiais, o pintor desmente que os manifestantes tenham cometido qualquer ato de violência contra as forças de segurança.
Este testemunho é corroborado por outros vários feridos hospitalizados em Antakya. "As forças de segurança dispararam contra o quartel general do partido Baath para ter uma desculpa para nos matar", afirma Hasan, um homem de aproximadamente 50 anos, que garante não ter visto nenhum policial ou soldado morto.
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